Cada família recém-chegada adquiria, dentro de condições estabelecidas em lei, um lote de terras de, em média, vinte a trinta hectares, recortados simetricamente ao longo de eixos, denominados léguas, e de subeixos, denominados linhas ou travessões. Uma minoria adquiriu lotes urbanos nas sedes das colônias, formando núcleos que se transformariam mais tarde nas principais cidades da região.
Essa ocupação de terras teve duas conseqüências principais: no plano econômico, provocou a incorporação de terras devolutas ao sistema produtivo nacional e, no plano cultural, propiciou o surgimento de uma cultura de características diferenciadas em relação às demais regiões do Estado e do País e diferenciadas também em relação à cultura (ou culturas?) trazida da Itália.
A identidade cultural própria da região de imigração italiana construiu-se em função de diferentes fatores que ainda merecem estudos mais aprofundados. Alguns deles, no entanto, podem desde já ser apontados se não como determinantes, ao menos como condicionantes do processo ocorrido.
Um primeiro fator é o que aponta para a própria origem dos imigrantes. A sua quase totalidade era composta por camponeses, e quase todos eram provindos do Norte da Itália, sendo que a maioria era das províncias do então denominado Tri-Vêneto. Tanto a peculiaridade cultural desse grupo como a sua relativa homogeneidade são elementos de grande importância para a configuração do perfil cultural da região.
Um segundo fator é o que engloba o conjunto das situações novas encontradas pelos recém-vindos, desde a situação física e geográfica, passando pelo tipo de assentamento, até os tipos de recurso disponíveis. Todas elas exigiam adaptações e, no limite, a criação de novas formas de organização social e de novas tecnologias, a partir do tipo de organização e da tecnologia trazidos como bagagem cultural.
Um terceiro fator é representado pelo tipo e conjunto de relações que se foram estabelecendo entre esse grupo cultural estranho e a cultura já estabelecida e dominante. Essa será uma história de trocas, mas igualmente de conflitos, uns e outros deixando suas marcas na fisionomia cultural da região. Desde o isolamento inicial até a inserção plena na coletividade nacional, todo um jogo de aceitações e rejeições, de uma parte e de outra, estabelece uma dinâmica ainda não concluída.
Hoje, a região de imigração italiana no Rio Grande do Sul abrange mais de trinta municípios, que cobrem uma área de, aproximadamente, oito mil quilômetros quadrados. No centro geográfico e político dessa região situa-se a Universidade de Caxias do Sul. Inserida nela e, de certa forma seu produto, a universidade assumiu o compromisso de ajudar na tomada de consciência dos elementos que compõem essa cultura e de mostrar sua importância no quadro da cultura nacional.