Autores EDUCS em Destaque: Everaldo Cescon fala sobre filosofia e produção editorial
Autor da Editora da Universidade de Caxias do Sul afirma que os presentes de um vizinho universitário, especialmente encartes da antiga Enciclopédia Barsa, despertaram sua paixão pelos livros
O autor e pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UCS, Everaldo Cescon, destaca-se pelas publicações e traduções na área das Humanidades, a qual se dedica em diversas pesquisas. É também um grande incentivador da Editora da Universidade de Caxias do Sul (EDUCS), a qual fica alocada dentro de sua área de atuação dentro da Instituição. Segundo Cescon, as editoras universitárias foram criadas para promover a cultura e socializar o conhecimento, tornando acessíveis ao grande público os resultados de pesquisas que são realizadas em âmbito acadêmico. Consequentemente, acabam levando esse conhecimento para além dos muros universitários ao publicar trabalhos que não são do interesse das editoras comerciais. O pró-reitor destaca que são as editoras universitárias as responsáveis pela publicação de obras, traduções e material didático fundamentais para compor qualitativamente as bibliotecas acadêmicas e os cursos universitários. Conversamos com o professor para a série de entrevistas EDUCS Autores em Destaque para saber um pouco mais sobre sua vida como autor. Confira:
Fale um pouco sobre você. De onde você é? Qual é a sua formação?
Eu nasci numa pequena cidade interiorana, Nova Araçá, cuja perspectiva era a lavoura ou a única indústria da cidade. Na vida religiosa, encontrei a perspectiva de uma sólida formação e a possibilidade de me dedicar à vida intelectual. Graças ao apoio e à ajuda de pessoas maravilhosas, pude obter uma formação humana, filosófica e teológica, bem como desenvolver habilidades sócio-emocionais. No Ensino Superior estudei Filosofia e Teologia, fui bolsista de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Estudei e residi em Roma e Lisboa. Minha formação foi marcada por Xavier Zubiri, filósofo espanhol e membro da Escola de Madrid, e por Edmund Husserl, filósofo e matemático alemão fundador da Escola da Fenomenologia. Na UCS há 24 anos, atuo na formação humanística, em diferentes cursos de graduação. Dedico-me à pesquisa filosófica e histórica, a temas como o conceito de pessoa e suas interfaces com a bioética e a filosofia da mente e o patrimônio cultural religioso. Além disso, a UCS me propiciou diversas experiências de gestão de organizações de ensino superior. Fui chefe de Departamento, diretor de Área do Conhecimento e, atualmente, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação.
Quando e como o livro entrou na sua vida?
Os livros entraram na minha vida pela escola, mas foram os livros presenteados por um vizinho universitário, especialmente encartes da antiga Enciclopédia Barsa, que despertaram essa paixão. A disciplina da leitura entrou no Ensino Médio e estabeleceu um espaço na minha vida diária. O primeiro livro autoral surgiu em 2005, desafiado por um colega e amigo. De lá para cá já são 14 livros autorais e organizados.
Como a sua formação interfere no processo de autoria dos livros?
A formação em Filosofia e em Teologia, campos do saber dedicados ao trabalho de refinamento das ideias, dos conceitos, está diretamente ligada à produção bibliográfica. O livro é o principal meio de divulgação das ideias.
Quando decidiu publicar seu primeiro livro? Quais fatores contribuíram ou dificultaram o processo? Qual foi o livro?
O primeiro livro resultou da organização de um congresso científico sobre o problema do mal. Em coautoria com o amigo Paulo César Nodari, reunimos pesquisadores com diferentes viéses sobre o mal e, posteriormente, publicamos as suas contribuições em O mistério do mal.
Qual seu livro mais recente e do que se trata?
O meu livro mais recente viu as tintas no início deste mês de junho. Trata-se de Filosofia e o mundo da vida, uma co-organização com Idalgo José Sangalli, obra coletiva em comemoração aos 60 anos de existência do curso de Filosofia da UCS, que reúne contribuições de egressos, ex-professores, professores e pesquisadores do curso de Filosofia (bacharelado e licenciatura). Traz relatos e reflexões sobre a importância da Filosofia para a constituição e missão da UCS na comunidade regional, para a formação de pessoas com espírito crítico e humanista, para desempenhar com excelência as funções profissionais, nos diferentes âmbitos de atuação dos egressos e, por fim, para a educação democrática da sociedade.
Destaque 3 aspectos mais significativos da experiência de publicar um livro:
A oportunidade de expressar as próprias ideias; a possibilidade de, pela obra, interagir com pessoas muitas vezes desconhecidas; a realização e o prazer proporcionados pela concretização da atividade intelectual.
Qual a importância de traduzir obras como as que estão em andamento no momento com a EDUCS?
No momento, com o subsídio de um programa de difusão do livro e da leitura, do Ministério da Cultura da Itália, estamos ultimando três obras traduzidas: Se Deus Quiser, de Salvatore Giordano; O peixe subaéreo, do mesmo autor; e Vozes do século XXI, de Vincenzo Fiore. O primeiro é uma releitura, a partir de Max Weber, da secularização no tempo do fundamentalismo. A segunda trata das vicissitudes resultantes da interação entre uma menina, Alice, que quer explorar o mundo subaquático, e um peixe da espécie bodião-verde, Jerry, que quer explorar o mundo subaéreo. Por fim, o terceiro traz uma compilação de entrevistas a cientistas, filósofos e poetas que respondem a perguntas sobre o nosso tempo.
Indique três critérios que devem ser considerados na escolha das obras para tradução em relação aos autores e ao conteúdo:
Relevância da obra na sua área, seja ela literária, científica, filosófica ou outra; notoriedade do autor; seriedade da versão escolhida para ser traduzida.
Crédito da foto: Bruno Zulian