Autores EDUCS em destaque: Terciane Ângela Luchese
“A escrita tornou-se algo do cotidiano. Aprendo na medida em que escrevo, leio, estudo”, destaca a autora da Editora da UCS Terciane Ângela Luchese, diretora da Área do Conhecimento de Humanidades da UCS
Escritora com várias obras publicadas pela EDUCS, Terciane Ângela Luchese nasceu em Bento Gonçalves, em 20 de março de 1976. Sua infância na área rural deixou boas lembranças do contato com o ar livre e a natureza. Aluna de escola pública, ingressou no ambiente escolar aos quatro anos. Na adolescência, optou pelo magistério e partiu para a docência aos 17 anos, na Educação Infantil. Na graduação, dividida entre História e Pedagogia, acabou por concluir o curso de História, área em que seguiu no campo da docência. Na trajetória acadêmica, já no doutorado, encontrou sua linha de pesquisa na união entre as áreas de História e Educação. Atualmente é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq e lidera o Grupo de Pesquisa em História da Educação, Imigração e Memória (GRUPHEIM/UCS). Na Universidade de Caxias do Sul, é também diretora da Área do Conhecimento de Humanidades.
Com uma carreira consolidada na área da pesquisa e 20 obras publicadas, somando as parcerias e organizações de coletâneas, a professora Terciane compartilha detalhes de sua trajetória como autora na série EDUCS Autores em Destaque:
Quando e como os livros entraram em sua vida?
Os livros fazem parte das mais tenras e agradáveis memórias que tenho da infância. Livros em casa não eram tantos, mas existiam. Meus irmãos me incentivavam e materiais escolares eram parte das brincadeiras favoritas. E a leitura foi um passatempo predileto desde muito. A biblioteca da escola foi muito especial e por meio dela conheci obras da literatura infantil e juvenil que me acompanharam nas aventuras imaginárias. Do ponto de vista da autoria, o primeiro livro que publiquei foi derivado do estudo realizado durante o estágio no curso de Licenciatura em História da Universidade de Caxias do Sul. O mote da investigação foi compreender os motivos pelos quais o território correspondente ao distrito de São Pedro, em Bento Gonçalves, havia preservado maior número de casas de pedra e/ou madeira antigas e como isto se relacionava com a questão das mudanças no traçado e pavimentação asfáltica da RS 470. Nos idos de 1997, a pesquisa realizada por meio da História Oral e da análise documental foi partilhada com outras duas colegas, Maria Isabel Accorsi e Verônica Borges dos Santos, sob a orientação da professora Loraine Slomp Giron. E desta primeira publicação foram emergindo outras no campo da História e, em especial, nos últimos anos, na História da Educação.
Como a sua formação agrega ao processo de autoria dos livros?
O processo de formação que envolve a docência e a pesquisa estão entrelaçados e constituem, de certo modo, os objetos das minhas investigações. História da Educação, História Regional, Migrações, Etnias e Educação são pontos centrais que mobilizaram meus estudos. Mas entendo que há muito de história de vida pessoal, convivência com avós e familiares, curiosidade sobre a cultura local e mesmo acontecimentos do cotidiano que, num olhar sensível, serviram de esteio para as investigações desenvolvidas e a escrita das obras que publiquei. Mais do que isto, também gosto de trabalhar com parcerias, aprender e dividir a escrita com os colegas. Por isto, também, a organização de obras – cada uma delas com sua história e motivações. A escrita tornou-se algo cotidiano. Aprendo na medida em que escrevo, leio, estudo. Sou apaixonada por documentos históricos e História Oral. Penso que só compreendemos em profundidade nossa existência na medida em que sabemos, conhecemos e reconhecemos nossa complexa relação com e no tempo. Com as culturas e as pessoas que convivemos e que nos antecederam. E escrever a partir da pesquisa científica é compromisso ético e político de comunicar, para diferentes públicos e sob diferentes suportes, nossas descobertas.
Qual seu livro mais recente e do que trata?
O livro mais recente é uma parceria com Anthony Beux Tessari e Jésica Storchi Ferreira e intitula-se FERVI: 50 anos dedicados ao Ensino Superior na Região dos Vinhedos, publicado pela EDUCS em 2022.
Como pesquisadora, professora e gestora, como você avalia a importância das publicações em livros e revistas científicas?
Vivemos tempos paradoxais de nossa história. Ao mesmo tempo que temos desenvolvido inteligência artificial, soluções tecnológicas incríveis para problemas e necessidades do cotidiano e, como nunca na história humana, produzido muitos conhecimentos científicos, num ritmo e com transformações acentuadas, percebemos, de outro lado, o quanto a educação, o conhecimento e o esclarecimento precisam ser comunicados e chegar às pessoas. O diálogo da ciência com a sociedade, o esclarecimento e o pensamento crítico-analítico são desafios nossos. Assim, creio que é nossa função política, ética e cidadã produzirmos conhecimento científico, mas para além disto, divulgá-lo, torná-lo acessível e disponível para as pessoas em diferentes contextos e condições. Acredito que a liberdade é fruto também da nossa capacidade de pensar crítica e complexamente os problemas, as situações e que temos um lugar social a ocupar quando intitulados professores e pesquisadores.
Como avalia sua experiência e relação com o universo editorial?
Ao longo dos anos aprendemos com a experiência da pesquisa e da publicação. Tive excelentes vivências com colegas editores e eu mesma me tornei editora de periódico, o que é uma possibilidade muito interessante e desafiadora. A vida acadêmica nos oferece lugares para constantemente aprender, estudar e nos transformarmos em nossa humanidade. É desafiador, desacomoda, nos instiga e há uma beleza incrível, em minha opinião, nisto. Mesmo que rotinas e processos burocráticos existam, há abertura para a criatividade, a inventividade e a possibilidade de você crescer profissionalmente e na sua condição humana. Meu desejo é que os estudantes possam encontrar-se nas escolhas que fazem, descobrirem o que amam e com o que se identificam e não apenas exercer uma profissão, mas apreciar profundamente a aventura da vida com e para o trabalho que escolherem. Trabalho com o tempo e ele pode nos inspirar a perceber nossa pequenez, mas também nossa grandiosidade. Valorar cada momento e cada experiência, aprendendo com ela, é fundante. Nesta perspectiva, eu gosto e escrevo com o desejo de que outros se sintam instigados a escrever, a produzir pesquisa e a superar, ir além do que eu pude descobrir. E escrever inclui publicar. E o sentimento de alegria e realização por ver uma obra que você escreveu publicada, concretizada num projeto editorial que contou com muitas mãos e o trabalho de tantos profissionais, é extraordinário. Desejo que mais e outros possam ter tal experiência.
Fotos: Bruno Zulian e Claudia Velho