Com participação da UCS em projeto, Altos de Pinto Bandeira recebe denominação de origem para espumantes
Para obter Selo da DO em seus espumantes naturais, vinícolas da área delimitada precisam cumprir regras rigorosas de controle, desde o cultivo das uvas até o engarrafamento
As vinícolas Aurora, Don Giovanni, Geisse e Valmarino passam a exibir nos rótulos de seus espumantes únicos a denominação Altos de Pinto Bandeira, distinção que eleva e consolida a posição da região e do Brasil no universo da bebida. O reconhecimento foi divulgado no final de novembro pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial.
A Universidade de Caxias do Sul atuou para que a região da Serra gaúcha fosse reconhecida pela produção de seus espumantes. A professora Ivanira Falcade, hoje aposentada das funções, trabalhou como pesquisadora do projeto pela UCS na produção de alguns dos documentos básicos necessários ao processo para solicitação do registro da referida Indicação Geográfica. Para o objetivo, ela buscou, em conjunto com outros profissionais, auxiliar na delimitação da região, no Caderno de Especificações Técnicas e no renome da região e seus vinhos.
Foram cerca de dez anos para a obtenção da Denominação de Origem. A década serviu para consolidar processos já adotados pelos produtores, conscientes de suas condições privilegiadas de terroir – solo, clima e homem -, ideais para a elaboração de espumantes naturais de excelência. Daqui para a frente, toda garrafa de espumante natural que nasce nesta região delimitada e exibe o Selo da DO estará entregando a garantia da procedência e qualidade das uvas, assim como de cada etapa do caminho, do vinhedo à taça.
A Denominação de Origem cabe à Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Asprovinho). Para ter direito ao uso do Selo da DO em seus espumantes naturais, as vinícolas da área delimitada Aurora, Don Giovanni, Geisse e Valmarino devem cumprir regras rigorosas de controle, desde o cultivo das uvas até o engarrafamento. O saber fazer agrícola, vitícola e vinícola deve estar em perfeito equilíbrio durante todo o processo. Tudo começa com as variedades autorizadas – Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico – que, além de serem cultivadas na área geográfica delimitada, também precisam ser conduzidas pelo método espaldeira.
A interação clima-solo-videira é o que confere as características particulares necessárias para a elaboração do vinho base que vai originar o espumante natural dos Altos de Pinto Bandeira. O resultado são uvas com maturação moderada e composição equilibrada entre acidez e açúcar, com precursores aromáticos que resultam em qualidades e características de cor, aroma, paladar e estrutura determinadas pelo meio geográfico. Para completar, destaque para a atividade do homem que revela e evidencia, através de sua sensibilidade e conhecimento, a identidade do local.
Mesmo seguindo todo este protocolo, é preciso submeter os produtos a análises laboratoriais e sensoriais, com gestão do Conselho Regulador da DO. Somente depois é que o produto está apto a receber o rótulo com o Selo e seguir para a mesa do consumidor. Os primeiros espumantes com a DO Altos de Pinto Bandeira devem chegar ao mercado a partir do ano que vem.
Características da região
A Denominação de Origem dos Altos de Pinto Bandeira abrange 65 km² de área contínua, sendo 76,6% localizada no município de Pinto Bandeira, 19% em Farroupilha e 4,4% em Bento Gonçalves. A altitude média da região é de 632 metros, com terrenos de relevo ondulado até montanhoso. As temperaturas são mais amenas, enquanto a exposição solar é favorecida pela localização na margem esquerda do Vale do Rio das Antas e pela boa circulação horizontal do ar no alto de um dos patamares do Planalto Basáltico da Serra Gaúcha. Este conjunto de características influencia na escolha de técnicas de cultivo e manejo dos vinhedos, interferindo diretamente na qualidade do vinho elaborado.
UCS ajudou na consolidação de diferentes IGs
A professora Ivanira Falcade destaca que, para a obtenção da distinção “Altos de Pinto Bandeira”, o conjunto da pesquisa foi desenvolvido por diversos pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho, da Universidade de Caxias do Sul, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Embrapa Clima Temperado, com a colaboração de produtores da Associação de Produtores de Vinhos de Pinto Bandeira (ASPROVINHO).
A pesquisa foi financiada pela Embrapa, além de contar com recursos das demais instituições de origem dos pesquisadores, tendo sido coordenada pelo pesquisador Jorge Tonietto, da Embrapa Uva e Vinho.
“É mais uma conquista que evidencia a relevância das pesquisas e dos pesquisadores da UCS no desenvolvimento da Região”, declarou o reitor da UCS, professor Gelson Leonardo Rech.
Mas essa não foi a única Indicação Geográfica que contou com o trabalho da Universidade de Caxias do Sul. Desde 1993, a parceria com a Embrapa Uva e Vinho, a Embrapa Clima Temperado e a UFRGS, em conjunto com associações de produtores de uva e vinho e instituições de apoio, resultou nas seguintes obtenções:
- Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos – 2002
- Indicação de Procedência Pinto Bandeira – 2010
- Indicação de Procedência Altos Montes – 2012
- Denominação de Origem Vale dos Vinhedos – 2012
- Indicação de Procedência Monte Belo – 2013
- Indicação de Procedência Farroupilha – 2015
- Indicação de Procedência Campanha Gaúcha – 2020
- Indicação de Procedência Vale do São Francisco – 2022
- Denominação de Origem Altos de Pinto Bandeira – 2022
Foto: Aldo Toniazzo/IHMC