Comunidade acadêmica conectada: educação de qualidade em tempos de pandemia.
“Vivemos um momento ímpar em nossa UCS. Foi e segue sendo um grande exercício de cidadania e de protagonismo da empatia. Nos envolvemos com o desafio de promover o encontro em uma sala de aula sem paredes. Conseguimos colocar em movimento, e em tempo recorde, aproximadamente 2.700 turmas, porque temos um imenso patrimônio, que são as pessoas!” – Nilda Stecanela, pró-reitora Acadêmica.
Era uma segunda-feira, 23 de março, quando as primeiras aulas no formato online síncronas começaram a ser ministradas. Naquele momento, cada acadêmico da UCS teve a certeza de que a pandemia da Covid-19 estava criando uma mudança em sua rotina. A sala de aula mudou de espaço; do físico para o virtual – sem paredes. Os cumprimentos aos colegas, antes na forma de abraços, tornaram-se-se acenos pela webcam. O desejo pela fala, indicado pela mão levantada em meio a um seminário, por exemplo, agora era representado pelo “Ctrl + D”, comando que implica na abertura do microfone na sala online. Tudo havia mudado naquele instante, mas a possibilidade do encontro havia se mantido. O desejo pela aprendizagem e conhecimento também.
Para a UCS continuar em movimento, foi preciso uma readequação dos cronogramas pedagógicos das disciplinas, repactuação de combinações sobre provas e trabalhos, inserção ainda mais forte de tecnologias da informação no cotidiano educativo, para, de um lado, atender às exigências legais que restringiam o contato pessoal e normatizam o distanciamento, e de outro, garantir a milhares de seus estudantes o direito à continuidade da formação.
“O que se viu ao longo desses últimos meses é uma mobilização por um deslocamento possível dos processos de ensino e aprendizagem de espaços físicos para online, com o objetivo de se manter a mesma qualidade que há no presencial”, detalha a pró-reitora Acadêmica da UCS, professora Nilda Stecanela.
Coube a ela e à sua equipe coordenar as ações de enfrentamento da pandemia no nível pedagógico. E isso tudo foi possível, porque a Universidade já contava com investimento na área de tecnologias de aprendizagem. No início dos anos 2000, a UCS esteve na vanguarda ao desenvolver um ambiente virtual de aprendizagem. Nos últimos anos, o espaço passou por uma modernização, ampliando suas potencialidades. Em paralelo, o Centro de Inovação e de Tecnologias Educacionais (CINTED) foi criado para propor uma integração dos assuntos pedagógicos que envolvam estratégias de ensino a partir das ferramentas digitais.
Nilda explica que foi por meio da integração desses órgãos, de ações administrativas e da atuação docente que milhares de alunos conseguiram dar continuidade aos seus projetos de vida e de graduação, possibilitando à UCS seguir em movimento. “Notamos que houve uma resposta muito positiva dos estudantes. E sabemos disso a partir de dados como frequência, permanência, e participação. Em muitos casos, os alunos se sentem mais instigados a participar em ambientes virtuais”, destaca.
Preparação fez toda diferença
Coordenadora do Centro de Inovação e de Tecnologias Educacionais, a professora Flávia Fernanda Costa ressalta que, para dar conta desse novo posicionamento de aulas, a UCS se preparou estrategicamente por meio de uma estrutura e de um modelo de gestão que articula todas as potencialidade de desenvolver processos ágeis na gestão acadêmica. Ela explica que, ainda uma semana antes dos decretos que limitavam o contato social, especialmente em sala de aula, a UCS criou um plano de contingenciamento, traçando iniciativas para dar conta das possibilidades que viriam a surgir.
“Elaboramos tutoriais, protocolos de orientação, colocamos uma grande equipe com canais abertos aos professores, inclusive aos finais de semana, para se apropriarem das ferramentas. Temos uma parceria com o Google e disponibilizamos o Hangouts Meet, que tem servido como principal meio de interlocução entre docentes e estudantes”, explica, destacando a parceria que se estabeleceu com a Gerência de Tecnologia da Informação, que possibilita a continuidade das aulas.
Passados praticamente dois meses do início das aulas no formato online, o princípio de possibilitar que as aprendizagens aconteçam, diante das limitações desafiadas pela pandemia, mantém-se. Assim como permitir que professores e estudantes mantenham-se conectados, como forma de não interromper a formação dos alunos, o que traria possíveis prejuízos à comunidade acadêmica.
O esforço da Universidade, por meio de seus professores, coordenadores e funcionários, possibilitou que praticamente 2.700 disciplinas ocorressem na sua forma síncrona. Os números demonstram como engajamento docente e acolhimento da proposta pelos alunos possibilitaram essa ação.
Uma pesquisa sobre percepção dos alunos em relação às aulas síncronas foi criada pela Pró-Reitoria Acadêmica da UCS, realizada por meio de um formulário eletrônico disponibilizado para todos os alunos dos cursos de graduação da Universidade, entre os dias 17 de abril e 7 de maio. Os números apontam que as ações institucionais estão no caminho certo, com 85% dos acadêmicos respondentes considerando positiva a dedicação e a competência dos professores na condução das aulas no novo ambiente; apenas 5% desses alunos avaliaram de forma negativa.
Os dados apontam ainda que 80% dos estudantes consideraram adequados os encontros síncronos como alternativa às aulas presenciais, 13% ficaram neutros diante do questionamento e menos de 10% discordaram da estratégia.
Avaliação e criatividade em tempos de pandemia
Responsável pelo Núcleo de Formação de Professores do CINTED, o docente Lucas Fürstenau de Oliveira explica que foi preciso inovar na atuação. Isso porque alguns dos métodos ou instrumentos que funcionam ao vivo não são fáceis de serem replicados em uma discussão online. De acordo com ele, o exemplo mais simples talvez seja o uso do quadro – que precisou ser substituído por slides, anotações na própria tela ou por meio de outras tecnologias. Essas adaptações cotidianas, porém, também encontraram um outro desafio: o de avaliar o aluno, tema que tradicionalmente costuma apresentar diferentes posicionamentos no meio acadêmico.
“Talvez, a grande reinvenção pela qual os professores passaram foi sobre a avaliação. Muitos docentes tinham o hábito de avaliar por meio de ‘provas’, necessariamente presenciais, atribuindo bastante ‘peso’ a elas. Nós propusemos outras maneiras de se pensar a avaliação. Orientamos foco no processo de aprendizagem, não no resultado dela, já que os testes costumam avaliar apenas resultados. Em resposta a isso, muitos professores ajustaram suas avaliações, fazendo uso de ferramentas digitais variadas”, explica Oliveira.
O professor destaca ainda o acerto na utilização da plataforma escolhida para a aulas. Considerada por ele de fácil usabilidade em comparação com outras semelhantes, permitiu ainda a manutenção do contato próximo, por voz e imagem, entre professores e estudantes. “O vínculo entre os participantes do processo de ensino e aprendizagem se manteve, e entendemos que isso é muito importante para todos os envolvidos”, reforça o docente, que costuma ser reconhecido entre seus alunos pela qualidade de suas aulas.
O direito à educação em tempos de pandemia
Das metáforas com a guerra a uma posição que atribuiu ao momento atual o conceito de “novo normal”, o período que se vive é diferente de tudo que se experienciou até aqui. Talvez por isso seja tão difícil enquadrá-lo, esquematizá-lo e se apropriar de dados capazes de dar conta da realidade. Enquanto Universidade, deve-se trazer para o debate o contexto contemporâneo e avaliar os rumos e caminhos que se têm. Na disciplina de Tópico Especiais em Educação, a turma com acadêmicos de licenciatura discutiu sobre “O Direito à Educação na Pandemia”. Trazemos aqui o posicionamento de alguns.
Amanda Sandi Fontana cursa o terceiro semestre de licenciatura em Matemática. Ela considera que a educação nesse período é um direito – e também um privilégio. “Foi preciso se adaptar de uma hora para outra, mas nós tivemos esse direito à educação garantido, e temos o dever de ter plena consciência de que o direito está sendo garantido de uma forma diferente.
Com aulas online síncronas, Amanda viu ampliadas as responsabilidade sobre seu processo educativo. “A gente colocava muito a responsabilidade nos outros. Agora, essa responsabilidade é mais nossa”.
Colega de Amanda, Ana Júlia Fongaro ressalta a importância de se ter direito à educação nesse período de pandemia, e destaca o empenho de todos. “Os professores estão se doando ao máximo pra conseguir adequar as aulas para uma nova realidade”, destaca. A estudante do quinto semestre de Pedagogia demonstra ainda que os acadêmicos também precisam mostrar empenho nesse novo formato. “A gente está aprendendo muito agora. Com a pandemia, tivemos que achar um jeito de nos concentrarmos em casa, encontrar disciplina para fazer as coisas. Foi uma responsabilidade, porque é preciso se puxar um pouco mais. Pessoalmente, você tira as dúvidas e se expressa de modo diferente. Esse momento vai modificar o ensino e a aprendizagem”, projeta.
Rodrigo Luís de Quadros estuda licenciatura em Física. Aluno do sétimo semestre, ele percebe como positiva a continuidade das aulas em tempos de pandemia,. Apesar disso, reforça que nem todos têm essa mesma condição. “A gente é privilegiado, mas porque tem acesso à educação, porque tem uma internet para acessar”.
Amanda, Ana Júlia e Rodrigo representam os milhares de alunos da UCS que diariamente ligam seus computadores, acionam seus celulares, carregam seus tablets para iniciar suas aulas. É para garantir-lhes o acesso à educação que diariamente professores e funcionários da UCS se mobilizam no suporte à realização das atividades online. “Evidentemente que temos saudades. Mas deixamos o abraço para o momento do encontro, assim que possível. Não tenho dúvida que será um grandioso retorno” projeta a pró-reitora Nilda Stecanela.
Fotos: Claudia Velho