EDUCS e artista Cristian Bernich lançam “Converso: Cenas de Dança” no dia 4 de março, em Bento Gonçalves
Obra de registro histórico reúne conversas entre artistas de dança e autor compartilhando memórias afetivas dos envolvidos com a arte da dança na cidade, além de mais de cem imagens da produção cênica na área
O livro Converso: Cenas de Dança, de autoria do artista Cristian Bernich em parceria com a Editora da UCS – EDUCS, será lançado no dia 4 de março, às 19h, no Museu do Imigrante de Bento Gonçalves, em evento aberto ao público. Com uma linguagem diversificada de fácil compreensão, a obra reúne conversas entre artistas de dança e autor compartilhando memórias afetivas dos envolvidos com a arte da dança na cidade. A iniciativa deixa como legado o primeiro registro sobre a dança na cidade, com o objetivo incentivar a pesquisa na área.
Segundo o autor, além de possibilitar um registro histórico consistente, o livro é imagético, com mais de cem fotos que ilustram uma linha histórica de produção cênica – abrange balé, jazz, folclore de projeção, danças urbanas, dança moderna e dança contemporânea.
Confira detalhes sobre pesquisa e produção da publicação em conversa com Bernich, que é ator, bailarino, coreógrafo, professor de dança e teatro, produtor e diretor de espetáculos. Mestrando em Letras e Cultura na UCS, é graduado em Dança pela Universidade (2016), diretor e intérprete da Companhia de Dança-Teatro A Trupe Dosquatro.
Como foi o processo de produção da obra? Quais curiosidades e particularidades tornaram-se significativas ao conteúdo?
O livro é o resultado de uma pesquisa de quase dois anos, concebida por entrevistas com artistas que viveram na cidade, familiares e também artistas que ainda produzem dança cênica em Bento Gonçalves. Além disso, a pesquisa se voltou para documentos, programas de espetáculos antigos e fotografias que retratam a história da dança local. O interessante foi descobrir que os primeiros registros sobre dança ocorrem a partir do ano de 1958 em clubes sociais; nessa época, apenas o balé clássico era o gênero ensinado e somente as mulheres faziam aulas: a dança era parte da educação feminina. Outro aspecto interessante, foi o quão tardiamente a dança contemporânea começou a ser produzida na cidade e, também, quantos nomes de artistas haviam sido quase esquecidos. Nesse sentido, o livro surge para reapresentar algumas pessoas que tiveram grande contribuição para o que se produz atualmente na cidade. O que mais me chamou a atenção durante a pesquisa, foi saber que nos anos 1980 havia um movimento voltado à criação de uma companhia de dança que fosse subsidiada pelo poder público, o que infelizmente não ocorreu.
Quais são os seus maiores desafios e os melhores retornos no trabalho com a dança?
Acredito que o maior desafio é o mercado de trabalho. Não há no país um incentivo ao consumo de arte, a não ser como lazer. Há pouco fomento e desenvolvimento do mercado da dança no Brasil, o que não incentiva pessoas a se manterem na área. Grandes profissionais já desistiram de trabalhar no segmento porque perceberam que não há como viver por meio dança em nosso país. Simplesmente temos um mercado restrito, especialmente, a escolas particulares que ensinam dança, ou seja, ou você se torna professor ou concorre com um número gigantesco de pessoas para participar de meia dúzia de companhias no país. Todavia, é importante perceber que a dança potencializa nas pessoas não somente a performance de dançar. Ela congrega variados ensinamentos e aprendizagens, o que possibilita a abertura de vários caminhos. Com a dança conseguimos circular pelo mundo acadêmico, pela administração, pelo ensino, pela saúde, enfim, por inúmeras outras áreas que norteiam esse fazer. Creio que esse seja um dos melhores retornos de trabalhar com dança: o campo das possibilidades!
Em um país de imensa diversidade cultural, que passa por uma série de transformações em áreas como educação, economia e cultura, qual o papel da dança?
No meu livro e em minha dissertação de mestrado acabo explorando, timidamente, esses assuntos. A dança é acontecimento, com isso, podemos dizer que ela é parte do todo, da transformação social. Ela reflete e remete ao espaço-tempo que estamos vivendo, traz à luz o que foi obscurecido pelo passado transformando num presente coexistente. Ela é arte, é filosofia, é ciência e acima (talvez) de tudo, ela é vida viva, acontecendo! É capaz de transformar pensamentos, de desconstruir verdades e ser parte desse movimento contínuo que é a cultura. Talvez nem consigamos mensurar seu potencial em uma sociedade, todavia, quando fazemos uma leitura atenta em livros, por exemplo, os que se propõem a contar a história da dança, percebemos o tamanho de sua influência numa comunidade.
Poderia nos relatar algumas situações em que a dança teve um papel fundamental para a vida de alguém que conheceu?
Felizmente posso afirmar que foram várias! Teve um menino, que naquele momento tinha em torno de 11 anos de idade. Ele era muito carente, não apenas financeiramente, mas também emocionalmente; fazia aula de dança comigo em um projeto social, mas já era tido como “perdido”. Quando percebi o potencial que ele tinha para a dança, o encaminhei para uma escola de balé – ele foi e isso mudou a vida dele! Infelizmente não seguiu dançando, mas atualmente está muito bem sucedido. Também desenvolvo um trabalho com Pessoas com Deficiência desde 2011, o que é simplesmente incrível. Teve um menino que quase não caminhava e que aos poucos tornou-se confiante e corria pelos corredores da escola que estudava. Pais e mães que depois de uma apresentação, ou até em aula, vêm me dizer que não sabiam que seus filhos(as) eram capazes de fazer aquilo: dançar!