Um dos maiores especialistas da América Latina e Europa em Filosofia Medieval, Luis Alberto De Boni foi professor de História e de Filosofia na UCS de 1975 a 1988, e organizador e coordenador do primeiro curso de pós-graduação da Universidade.

Em um ato que definiu reunir três sentidos da verdade – testemunho, desvelamento e virtudes – o reitor Evaldo Kuiava entregou o título de Doutor Honoris Causa da Universidade de Caxias do Sul ao professor Luis Alberto De Boni, pós-doutor em Filosofia Medieval e pesquisador da cultura italiana. A homenagem, em reconhecimento à contribuição do professor ao progresso da ciência e da cultura, ocorreu em reunião solene do Conselho Universitário (Consuni), na Sala dos Conselhos do Bloco A, na noite desta quinta, 21 de novembro.

Em um breve e descontraído pronunciamento, De Boni lembrou de sua chegada à UCS, em meados dos anos 1970, retornando de um período de estudos e trabalho para a Anistia Internacional na Alemanha. Começou lecionando História da Imigração e permaneceu 14 anos na Universidade, tendo sido criador do primeiro curso de especialização da UCS, em Filosofia. Segundo ele, graças à relação com o reitor Abrelino Vasata teve um de seus trabalhos mais importantes – a tradução da Suma Teológica de São Tomás de Aquino – lançado na época, em 18 volumes, com apoio da UCS.

Recordando as raízes familiares em Caxias do Sul e Bom Jesus, o professor salientou o extenso trabalho de pesquisa sobre a imigração e a cultura italiana na região, boa parte realizada na UCS, em parceria com o Frei Rovílio Costa. “Esta Universidade é muito importante para a região. Espero que a UCS progrida sempre”, agradeceu.

Tributo – A entrega do título honorífico foi a culminância da Jornada História e Filosofia: Um Tributo ao Professor Doutor Luis Alberto De Boni, realizada ao longo do dia que reuniu professores, pesquisadores e estudantes no auditório do Bloco E para debater os principais temas pesquisados pelo professor homenageado: História e Filosofia Medieval e cultura italiana.

Participaram das mesas de debate os professores Gregorio Piaia (Universidade de Pádua, Itália); José Francisco Preto Meirinhos (Universidade do Porto, Portugal), Celina A. Lértora Mendoza (CONICET – Argentina), Ernildo Stein (UFRGS e PUC/RS), Vania Beatriz Merlotti Herédia (UCS), João Eduardo Pinto Basto Lupi (UFSC), Marcos Roberto Nunes Costa (UFPE), Alfredo Santiago Culleton (Unisinos), Anderson D’Arc Ferreira (UFPB), Manoel Luís Cardoso Vasconcellos (UFPel).

A promoção foi da Área do Conhecimento de Humanidades, do curso de Filosofia, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, da Sociedade Brasileira pelo Estudo da Filosofia Medieval e da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia – GT Filosofia na Idade Média.

Testemunho do legado e reconhecimento das virtudes

O reitor Evaldo Kuiava fez da homenagem ao professor Luis Alberto De Boni uma continuação do tributo prestado pelos demais colegas da Filosofia ao longo do dia. Referindo-se à contribuição do docente com a UCS, Kuiava definiu o Honoris Causa como o reconhecimento ao legado de De Boni, tanto referente à obra como ao exemplo como pessoa. Para construir o conceito, recorreu a três dimensões da Verdade.

A primeira, inspirada no Querigma cristão (a declaração, o anúncio das verdades da fé), que surge a partir do ‘testemunho’ daquilo que é realizado – o trabalho do homenageado que ajudou a construir a história da UCS.

A segunda, designada na Filosofia Grega como Aleteia, indicando ‘desvelamento’, ou seja, revelando ‘aquilo que é’ – no caso do professor, o que é como ser humano.

E a terceira, a verdade no sentido bíblico, descrita pela palavra hebraica emet, que contém implicações morais e possibilidades: o que é verdadeiro também é certo, bom, confiável, honesto, bonito e sagrado.

“Temos a verdade do que vai se construindo, realizando; a verdade daquilo que é, em essência; e a verdade que se dá no ato de reconhecimento”, construiu Kuiava. “Em todos os sentidos da Verdade, estamos reconhecendo sua obra, seu trabalho e tudo o que seu legado representa para tantos e para essa instituição que o senhor ajudou a construir”.

De Boni é autoridade internacional em Filosofia Medieval

Natural de Bom Jesus (RS), o professor Luis Alberto De Boni é graduado em Filosofia e Teologia. Frei Capuchinho, deixou a Ordem após a conclusão do doutorado em Teologia, dando continuidade aos seus estudos, o que resultou em cinco pós-doutorados: dois pela Universidade de Colônia, Alemanha; dois pela Universidade de Bohn, Alemanha, e um pela Universidade do Porto, Portugal.

Foi professor de História e de Filosofia na UCS de 1975 a 1988, tendo sido o primeiro docente da instituição com título de doutorado, organizador e coordenador do primeiro curso de pós-graduação da Universidade, de especialização em Filosofia, e presidente da Associação dos Docentes da UCS. Também atuou na UFRGS, onde chegou a diretor do Instituto de Filosofia, e na PUC-RS, onde montou o doutorado na área. Desde 2007, é professor-pesquisador do Gabinete de Filosofia Medieval da Universidade do Porto.

Em sua produção constam 130 livros ou capítulos de livros e cerca de 50 artigos em periódicos, além de diversas traduções do italiano, do alemão e do latim e de prefácios. As publicações reproduzem os filósofos medievais ou discorrem sobre eles e suas obras, além de temas como teologia, história da Igreja e culturas italiana e alemã. De Boni é interlocutor internacional em pesquisas e conferencista junto à elite dos pesquisadores medievalistas, sobretudo na Europa e América Latina, inspirando a criação da Rede Latino-Americana de Filosofía Medieval, da qual é presidente honorário.

Além das autorais, o professor ajudou a formar gerações de pesquisadores e professores. O seu legado, para além da Filosofia e Teologia, pode ser percebido nos estudos histórico-culturais das tradições religiosas, particularmente a da Ordem dos Capuchinhos, e das tradições alemã e italiana. Especialmente sobre a imigração italiana, sua contribuição foi decisiva na pesquisa bibliográfica e na pesquisa empírica, gerando material que faz parte do acervo histórico da UCS.

Em reconhecimento à importância de seu trabalho de pesquisa e divulgação cultural e filosófica, recebeu do governo italiano o título de Cavvaliere del Ordine al Merito (1992) e foi nomeado membro da Academia Brasileira de Filosofia (2006); membro da Accademia Galileiana di Scienze, Lettere ed Arti de Pádua, Itália (2016); membro da Sociedade Brasileira de Filosofia Medieval, da qual foi presidente e um dos fundadores; membro da Associação Brasileira de Estudos Medievais, da qual foi presidente, entre outros títulos.

Título é o 10º do tipo na história da UCS

Mais nobre e de mais alto grau distintivo que uma universidade pode conceder, o título Doutor Honoris Causa homenageia personalidades que tenham contribuído de modo eminente para o progresso das ciências, letras ou artes, ou prestado relevantes serviços à cultura. A concessão ao professor Luis Alberto De Boni é a 10ª do tipo realizada pela UCS.

A primeira ocorreu em 20/12/1967, para o ministro da Educação de então, Tarso Dutra, por sua contribuição para a instalação da Universidade, efetivada naquele ano. Seguiram-se as homenagens ao linguista e professor italiano Emílio Peruzzo Agnesin (08/10/1975); ao ex-governador do Rio Grande do Sul, Euclides Triches (21/03/1975); ao ministro da Educação da Argentina Manoel Guillermo Garcia Solá (24/10/99); e ao presidente do Uruguai Jorge Batlle Ibáñez (13/05/2003).

Como parte das comemorações dos 50 anos da UCS em 2017, quatro títulos foram concedidos: ao filósofo italiano Diamante Nuccio Ordine (05/09); ao sociólogo italiano Domenico De Masi (26/09); ao professor de Direito argentino Miguel Armando Garrido (16/11), e ao matemático francês Jean-Claude Régnier (14/12).

Fotos: Claudia Velho