Pesquisa na UCS visa transformar soro de leite em bioplástico biodegradável
Material tem potencial para ser utilizado em embalagens e outras aplicações sustentáveis

Uma pesquisa inovadora desenvolvida na Universidade de Caxias do Sul pode dar uma nova e sustentável destinação para o soro de leite, subproduto considerado um dos mais poluentes da indústria de laticínios. O estudo vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos e Tecnologias (PGEPROTEC) visa ao desenvolvimento de um biopolímero biodegradável a partir do soro de leite in natura, com potencial para ser utilizado na fabricação de embalagens e outras aplicações sustentáveis.
O soro de leite é um resíduo gerado em grande volume durante a produção de queijos. Apesar de já ser utilizado em alguns produtos alimentícios e na indústria farmacêutica, sua utilização em embalagens é um mercado promissor e ainda em crescimento. O descarte direto do soro em rios e esgotos públicos não é permitido por lei devido a sua alta taxa de matéria orgânica, o que faz com que as bactérias e microorganismos presentes na água utilizem uma alta quantidade de oxigênio dissolvido no líquido para degradação dessa matéria.
A pesquisa, conduzida pela doutoranda Jocelei Duarte, sob orientação da professora Camila Baldasso e coorientação do professor Matheus Poletto, busca criar um material com propriedades físico-químicas adequadas, modificando ou combinando os componentes naturais do soro, como proteínas e açúcares. O objetivo é desenvolver um produto que, além de ser eficiente, seja também uma alternativa ecológica aos plásticos convencionais.
“O soro de leite in natura, por si só, não permite a obtenção de um polímero, pois é composto por aproximadamente 94% de água e apenas 6% de sólidos. Assim, tornou-se necessária a adição de uma matriz polimérica de suporte, associada a aditivos com funções plastificante e reticulante. Essa mistura foi submetida a tratamento térmico, promovendo a desnaturação das proteínas do soro, que, ao interagirem com a base polimérica, formaram uma rede tridimensional responsável pela estruturação do plástico”, explica Camila.
O estudo, iniciado em 2022, está em fase de qualificação, com base nos resultados já obtidos. As próximas etapas incluem as análises de biodegradabilidade, além da extrusão e sopro do biopolímero. A “proteção” da invenção, via depósito da patente, no entanto, já foi registrada. “A partir da divulgação científica e de publicações, empresas interessadas poderão investir no projeto, adquirir a tecnologia e viabilizar sua produção em escala industrial. Uma vez produzido, o bioplástico já poderá ser disponibilizado ao mercado”, destaca a orientadora.
Fotos: PGEPROTEC/Divulgação