Psicologia em conexão com políticas públicas e demandas sociais
Explorando diferentes possibilidades em sua área de estudo, acadêmicos desenvolveram iniciativas de intervenção em benefício da comunidade, com foco em saúde e educação.
Pré-pandemia, os acadêmicos de Estágio Básico IV, do curso de Psicologia, saiam a campo identificando demandas sociais relativas às políticas públicas, especialmente em temas como saúde e educação, e elaboravam propostas de intervenção para atendê-las. Em razão do distanciamento imposto pelo novo coronavírus, os métodos mudaram, mas o enfoque comunitário segue presente.
Desde o último semestre, o desafio aos estudantes é desenvolver “produtos” de impacto à comunidade, em diferentes formatos e a partir de diversas tecnologias, utilizando os conhecimentos teóricos na construção de novas possibilidades em psicologia e oportunizando o acesso a variados públicos. Nesta edição, as intervenções relacionaram-se a campanhas do governo – como janeiro branco (voltada à saúde mental), junho vermelho (para doação de sangue), agosto lilás (combate à violência contra a mulher), setembro amarelo (prevenção ao suicídio) e outubro rosa (conscientização sobre o câncer de mama).
Como explica a professora Maria Elisa Fontana Carpena, entre os principais objetivos da disciplina está o estímulo à leitura da realidade, a fim de oportunizar o diagnóstico de diferentes situações, a capacidade reflexiva sobre questões sociais e o lugar da psicologia em relação aos temas. “É de fundamental importância que o acadêmico seja capaz de se reconhecer protagonista na proposta de construir formas de fazer a psicologia ser acessível à maior parte da população, nos temas que lhe são pertinentes. É importante essa ampliação de ‘olhar’ para o fazer profissional”, considera.
Entre os trabalhos desenvolvidos pelos alunos, além das campanhas citadas, as abordagens contemplaram prevenção ao abuso sexual infantil, depressão na adolescência, saúde mental na escola, gravidez na adolescência e automutilação.
Prevenção ao Suicídio
O trabalho das acadêmicas Caroline dos Reis Homem, no nono semestre, e Tainara Lorentz, entre o sétimo e oitavo, enfatizou a importância da prevenção ao suicídio ocorrer de forma contínua, e não somente durante o Setembro Amarelo. “Reforçamos também a escuta pela vida e a relevância de encontrar formas de chegar a quem precisa.”
A dupla elaborou uma campanha permanente reforçando a essencialidade de falar sobre o tema para desconstruir mitos e tabus. Assim, “é possível sensibilizar a sociedade para que olhe para o sofrimento seu e do outro com acolhimento e compreensão, de forma que a escuta seja uma das principais ferramentas de prevenção”. Além de uma abordagem virtual, com cartazes para as plataformas digitais, as alunas pensaram em uma proposta de intervenção física constituída de material reciclável (garrafas pets) com mensagens de cuidado e acolhimento, para motivar a pedir ajuda e a ajudar o próximo. Nas peças, dados de contato do Centro de Valorização da Vida e orientação para procurar as UBSs.
As estudantes destacam o valor da experiência, sobretudo por oportunizar a aplicação da construção acadêmica às temáticas que constituem a comunidade e precisam ser compreendidas com atenção e acolhimento.
Saúde Mental
‘Vamos Falar?’ é o convite das alunas Fernanda de Quadros Koch, entre o sétimo e oitavo semestre do curso, e Luiza Frizzo de Godoy, no oitavo, através do título de seu projeto. O baralho com 41 cartas visa oportunizar uma dinâmica terapêutica em grupos, para aumentar as oportunidades de diálogo sobre saúde mental. Cinco categorias compõem a ferramenta: rede de apoio, ilustrações, palavras, sentimentos/emoções e vivências, a fim de dar dinamicidade às conversas, com aplicação a critério de cada profissional. As cartas propõem perguntas, afirmações, questões de múltipla escolha (em que não há certo e errado) e até desenhos, todos com aspectos ligados à saúde mental e ao adoecimento. “Cabe ao coordenador do grupo instigar os participantes a ampliar suas falas sobre cada carta, fazendo perguntas e intervenções. Cada resposta tem por objetivo levantar questões a serem debatidas no grupo”, contam Fernanda e Luiza.
O intuito é identificar que as situações cotidianas expressas no baralho são capazes de interferir no psiquismo, e aproximar a população da compreensão de que a saúde mental é muito maior do que os transtornos e diagnósticos. O principal aprendizado no processo, contam, é ampliar a visão sobre o fazer psicologia, descobrindo formas indiretas de agir junto à comunidade.
A dupla pretende encaminhar o baralho a instituições vinculadas à Rede de Atenção Psicossocial, ao Centro Clínico e ao Serviço de Psicologia Aplicada da Universidade.