UCS concede Honoris Causa ao sociólogo Edgar Morin

Assessoria de Comunicação da Universidade de Caxias do Sul - 09/09/2021 | Editado em 18/07/2023

Aos cem anos, criador da abordagem do ‘pensamento complexo’ segue sendo um dos maiores estudiosos contemporâneos do mundo, com ampla contribuição à educação. Outorga ocorre com conferência do homenageado na abertura de evento internacional.

O centenário professor francês Edgar Morin, um dos mais importantes pensadores mundiais dos séculos XX e XXI, será agraciado como Doutor Honoris Causa pela Universidade de Caxias do Sul. A solenidade marcará a abertura do II Colóquio Internacional Processos Educacionais e Tecnologias Digitais: O humano em (trans)formação, promovido pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu de Educação e pela Área do Conhecimento de Humanidades da UCS. Caberá a Morin, em seguida, proferir a conferência de abertura do evento, com o tema O Humano em Transformação, dirigida aos professores da educação básica e do ensino superior. O colóquio prossegue durante toda a semana.

A concessão do título, o 11º do gênero na história da UCS, foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário (Consuni), órgão máximo da instituição, em assembleia realizada no dia 30 de junho de 2021, a partir de proposição da Área do Conhecimento de Humanidades, em reconhecimento à distinção acadêmica e ampla contribuição dada à educação pelo criador da abordagem do ‘pensamento complexo’ (ou ‘paradigma da complexidade’), bem como pela passagem de seu centenário, ocorrida em 8 de julho.

“A UCS é uma instituição comprometida com a difusão de uma educação de excelência, visando a uma formação técnica, científica e, sobretudo, humana de seus estudantes”, descreve o reitor Evaldo Kuiava. “Nesse sentido, entendemos que a vasta e singular obra do professor Morin encontra imensa ressonância e contribuição com o papel da UCS como lócus de transformação social, voltado à preservação e difusão dos valores humanísticos e à promoção o exercício contínuo de reflexão sobre o passado, a compreensão do presente e a preparação necessária para o que está por vir”.

Biografia
Sete décadas de pesquisa sobre a complexidade humana

Nascido Edgar Nahoum em Paris, em 8 de julho de 1921, Edgar Morin formou-se em Direito, História e Geografia na Universidade de Sorbonne, uma das mais importantes do mundo na Área de Humanidades, e realizou estudos em Filosofia, Sociologia, Epistemologia e Antropologia ao longo de toda a carreira acadêmica. De origem judaica, participou do movimento de resistência francesa à ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.Em 1950 ingressou no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França, onde faria carreira e permanece até hoje como pesquisador emérito. Em 1968 começou a lecionar na Universidade de Nanterre. Passou um ano no Instituto Salk de Estudos Biológicos em La Jolla, na Califórnia (EUA). Ainda diretor de pesquisas no CNRS, ele é Doutor Honoris Causa em universidades de vários países e presidente da Associação para o Pensamento Complexo.

Sua bibliografia completa conta com 85 títulos, entre livros, ensaio e compilações. Em sua principal obra, ‘O Método’, composta por seis volumes publicados a partir de 1977, firma as bases do ‘paradigma da complexidade’. Segundo Morin, o pensamento complexo é fundamentado em formulações surgidas nos campos das Ciências Exatas e das Naturais, como as Teorias da Informação, a Teoria Geral dos Sistemas e a Cibernética, propondo, assim, a transdisciplinaridade.

Pensamento Complexo
Solidariedade como recurso fundamental diante da crise planetária  

A partir das mudanças profundas em escala mundial ocorridas nas últimas décadas do século XX, no caso, a globalização econômica, o fim da polarização entre capitalismo e comunismo nas relações internacionais e o avanço da tecnologia de informação, Edgar Morin considerou, como maior urgência no campo das ideias, elaborar uma nova concepção do próprio conhecimento (mais do que rever doutrinas e métodos). Assim, no lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes, o sociólogo propõe o conceito de complexidade tomando a palavra em seu sentido etimológico latino, ou seja, como ‘aquilo que é tecido em conjunto’

Em sua visão, a submissão dos saberes tradicionais a um processo reducionista, separado e fragmentado, acarretou na perda das noções de multiplicidade e diversidade. Dessa forma, a simplificação está a serviço de uma falsa racionalidade, que ignora a desordem e as contradições existentes em todos os fenômenos e nas relações entre eles. O pensamento complexo, por sua vez, considera a incerteza e a falibilidade como parte da vida e da condição humana para, ao mesmo tempo, sugerir a solidariedade e a ética como caminho para a religação dos seres e dos saberes.

Este processo passa pela aplicação, na conceituação científica, de aspectos contextuais do universo humano como o ambiente, a história e a psicologia, gerando um pensamento crítico sobre o próprio pensar e seus métodos. Se estabelece, assim, um procedimento em espiral, que amplia o conhecimento a cada retorno ao início, perpetuando-se o aprendizado como algo para toda a vida. Esta trajetória vai construindo a constatação da interconexão inerente a todos seres e seus saberes, de modo que a solidariedade emerge como recurso fundamental para a superação da sensação de impotência diante de incertezas que se acumulam, da qual decorre o que Morin denomina ‘crise planetária’.

Maior comenda acadêmica é outorgada pela 11ª vez na história da UCS

Honraria mais nobre e de maior grau distintivo que uma universidade pode conferir, o título Doutor Honoris Causa é concedido pela UCS a personalidades que contribuíram de modo eminente para o progresso das ciências, das letras ou das artes ou prestaram serviços relevantes à Universidade no campo das atividades culturais. Edgar Morin é o 11º homenageado com a outorga em 54 anos de história da instituição, e o 6º nas gestões do reitor Evaldo Kuiava (2014-2022). Anteriormente, sete estrangeiros e três brasileiros receberam a comenda:
20/12/1967: ao ministro da Educação brasileiro de então, o gaúcho Tarso Dutra, por sua contribuição para a instalação da Universidade de Caxias do Sul, efetivada naquele ano.
21/03/1975: ao governador do Rio Grande do Sul, o caxiense Euclides Triches, no ano do Centenário da Imigração Italiana no Estado.
08/10/1975: ao linguista e professor italiano Emílio Peruzzo Agnesin, primeiro estrangeiro a receber a comenda pela UCS.
24/10/99: ao ministro da Educação da Argentina, Manoel Guillermo Garcia Solá, em visita à Universidade, quando foram estabelecidos acordos de cooperação.
13/05/2003: ao presidente do Uruguai, Jorge Batlle Ibáñez, também em visita à Universidade que resultaram em acordos de cooperação.

Como parte das comemorações dos 50 anos da UCS em 2017, quatro títulos foram concedidos:
05/09/17: ao filósofo italiano Diamante Nuccio Ordine.
26/09/17: ao sociólogo italiano Domenico De Masi.
16/11/17: ao professor de Direito argentino Miguel Armando Garrido.
14/12/17: ao matemático francês Jean-Claude Régnier.
21/11/19: o décimo Honoris Causa foi concedido ao professor de História e Filosofia Medieval Luis Alberto De Boni, natural de Bom Jesus (RS), primeiro docente com doutorado e organizador e coordenador do primeiro curso de pós-graduação da UCS, de especialização em Filosofia.

Fotos: Ulf Andersen/Getty Images